Referências Pedagógicas
Motivação
O objetivo central da Little Maker é envolver os alunos no processo criativo, através do qual a concretização das criações gera o empoderamento, o qual, segundo Paulo Freire (1987), é “a capacidade do indivíduo realizar, por si mesmo, as mudanças necessárias para evoluir e se fortalecer”. Durante esse processo surgem também desafios, e deles, a demanda por conhecimento.
Observamos na criança a criatividade nas brincadeiras e atividades escolares, porém, nós adultos deixamos esta aptidão de lado para seguir regras e convenções. Desde cedo começamos a reprimir nossas crianças, com frases do tipo: “Não inventa moda, é assim que se faz”.
Os grandes gênios da história se destacaram não pelo grande acúmulo de conhecimento ou capacidade de pensar acima do normal. É comum relatos de gênios que tinham dificuldades na escola, por não seguirem as convenções. Eram gênios, porque pensavam de forma inovadora, tinham um olhar inventivo para todas as coisas. Não perderam o olhar de criança.
O Movimento Maker acredita que não existem limites para a invenção, isto é um hábito, uma cultura. Todo mundo é capaz de criar, mudando o mundo à sua volta. Tudo é uma questão de misturar ingredientes certos: pessoas, ambiente e ferramentas.
Na Little Maker começamos isso o mais cedo possível, pois nada melhor do que criar este hábito, esta cultura, em quem ainda não tem os vícios e bloqueios dos adultos. Criar o mundo à sua volta estimula a confiança e a certeza do “ser capaz” de fazer, de “empreender” novos desafios, de ir além.
Usamos a tecnologia e a arte como ingredientes para a inventividade, para formar pessoas com olhares diferentes: inovadoras e empreendedoras. A inovação e o empreendedorismo se aplicam em todos os domínios da vida, em todas as profissões. Por isso, as oficinas oferecidas pela Little Maker estimulam as crianças a questionarem métodos e processos, fazerem coisas novas, acreditarem que podem mudar o seu mundo! As habilidades adquiridas e os comportamentos estimulados e praticados no decorrer das oficinas consolidam-se como hábito e permitem usufruir dos benefícios de ser um Maker no decorrer da vida.
Nesta metodologia, o conhecimento não é apresentado da forma tradicional, verticalmente do professor para o aluno. Ela é baseada em um processo de descoberta através do professor como “mediador”, sempre partindo de uma demanda do aluno. O papel da Little Maker é fornecer o ambiente, material e abordagens adequadas para que os alunos projetem suas próprias invenções exercitando a criatividade, o protagonismo, a persistência, o compartilhamento, o erro como aprendizagem e a sua própria realização como indivíduo. Este método visa tirar o aluno de uma posição passiva para uma posição ativa para que eles levem a prática arraigada para todas as áreas da vida, transformando a sua vida e a vida das pessoas ao seu redor.
A seguir detalhamos um pouco mais algumas de nossas referências que serviram de base e/ou inspiração para construirmos uma metodologia rica e bem fundamentada, focada em uma educação integral e significativa para cada aprendiz.
Movimento Maker
No início deste século começa a se organizar o Movimento Maker, um movimento que nasce da cultura Faça-Você-Mesmo (Do-It-Yourself) para algo mais parecido com Faça-Junto (Do-It-Together). Inicialmente uma “brincadeira de adulto”, é baseado na ideia de que pessoas comuns podem construir, consertar, modificar e fabricar os mais diversos tipos de objetos e projetos. Esta “brincadeira” evoluiu para um conjunto de princípios e valores que empoderam cidadãos como agentes de mudança e definem uma responsabilidade do Maker com sua comunidade e entorno.
Muitos preveem que este movimento será uma nova revolução industrial, onde os produtos passam a ser “desenhados” pelos próprios consumidores, impulsionados pela popularização dos métodos de fabricação em baixa escala, como impressora 3D, CNC, cortadora laser, etc. Enquanto isso não ocorre já é realidade que os processos de inovação das indústrias estão se inspirando nesses princípios, e cada vez mais estes valores são entendidos como essenciais para os profissionais do futuro.
É preciso entender que o Movimento Maker não se trata do espaço cheio de ferramentas de fabricação digital, mesmo que isso atraia muitos Makers, mas, sim, a postura e compromisso ao se fazer uso delas: fazer algo significativo para si ou para alguém importante. Encontramos muitos Makers fazendo marcenaria, culinária, robótica ou programação.
Desta forma, o movimento Maker define valores e atitudes muito alinhados com os objetivos da educação e as competências do século XXI. Por isso tem ganhado cada vez mais espaço nas escolas, mas certamente não terá bons resultados se forem adotados de uma forma tradicional, com um currículo técnico próprio, isolado da realidade da escola e distante dos significados pessoais de cada Maker.
O grupo Agency By Design (Project Zero – Harvard) publicou o livro “Aprendizado Centrado no Maker: Empoderando Jovens a Moldar seu Mundo” (tradução livre), no qual analisa diversas iniciativas Maker na educação nos Estados Unidos. O livro levanta diversos benefícios pedagógicos e identifica que o principal valor apontado pelos educadores é o desenvolvimento no aluno da percepção de que o mundo é moldável, e de que ele é um agente que pode e tem a responsabilidade de fazê-lo (CLAPP E., ROSS J., RYAN J., TISHMAN S., 2017).
Todos estes valores e atitudes estão completamente incorporados no processo proposto por nossa metodologia, pois permeiam e conectam diversas de nossas referências pedagógicas. Em nossas oficinas temos as atitudes Maker em uma placa para serem sempre lembradas e retomadas pelo professor quando necessário.
Aprendizagem Criativa
A Aprendizagem Criativa se baseia no processo exploratório e criativo para construir e sedimentar o conhecimento de forma significativa.
Mitchel Resnick, em seu trabalho à frente do Lifelong Kindergarten no MIT Media Lab, organizou estes princípios em quatro pilares chamado de 4 P’s da Aprendizagem Criativa (RESNICK, 2017), que seguem:
Projetos: a aprendizagem é mais eficaz quando os aprendizes estão envolvidos em projetos, seguindo ciclos que permitam desenvolver a espiral positiva da aprendizagem de imaginar, criar, brincar, compartilhar, refletir… e voltar a imaginar. Tudo em um processo de conscientização e consolidação da aprendizagem.
Paixão: o envolvimento é muito mais profundo se estes projetos são importantes para mim ou para quem eu goste. É importante que eu possa compartilhá-lo e me orgulhar dele.
Pares: a aprendizagem acontece por pares, todos aprendem e têm a responsabilidade de ensinar, comprometendo-se e cooperando com o grupo. O conhecimento se constrói e isso promove a autonomia na própria aprendizagem (aprender a aprender).
Pensar brincando: a aprendizagem ocorre pela experimentação, testando, errando e refletindo, construindo e reconstruindo o conhecimento. O erro é valorizado como oportunidade para novas possibilidades.
Construcionismo
Os princípios da Aprendizagem Criativa são fundamentados no Construcionismo de Seymour Papert (PAPERT, 1980) de onde também destacamos 2 conceitos essenciais de nossa metodologia:
– A aprendizagem significativa vem de uma relação emocional e afetiva do aprendiz com o objeto de conhecimento ou habilidade. Este ponto está presente no elemento Paixão dos 4 P’s, mas destacamos fortemente o valor do projeto autoral, pois na liberdade de escolha de ideias o aprendiz naturalmente vai trazer algo que lhe é valioso, e com isso temos uma conexão significativa com tudo que ocorrer no processo.
– Para que a conexão emocional ocorra e, ao mesmo tempo, o educador possa trazer sua intencionalidade de aprendizagem, propõe-se o conceito de Micromundo. Nele, o educador deve propor um ambiente para esta criação onde suas intencionalidades podem ser abordadas, devendo, ao mesmo tempo, permitir escolhas significativas para cada aprendiz.
Este programa se vale do conceito de micromundo para inspirar conexões significativas dos projetos com os objetivos pedagógicos presentes na BNCC.
Abordagem de Reggio Emilia
As escolas de Reggio Emilia trazem uma grande experiência dentro da educação infantil, nas quais o aluno é tido como protagonista do aprendizado, enxergando a escola enquanto um laboratório de emancipação cultural e democrática.
Neste processo, temos a escola como um local de exploração, investigação, experiências e vivências, na qual as crianças aprendem integrando diversas linguagens, entendendo o conhecimento de modo interdisciplinar e inerente ao processo por eles desenvolvidos, tendo como ferramenta a realização de uma documentação/portfólio para evidenciar e dar voz às descobertas realizadas. Para entendermos melhor a intencionalidade dessa abordagem, temos RINALDI (1999, p. 114) afirmando que
É uma abordagem na qual a importância do inesperado e do possível é reconhecida, um enfoque no qual os educadores sabem como ‘desperdiçar’ o tempo ou, melhor ainda, sabem como dar às crianças todo tempo que necessitem. É uma abordagem que protege a originalidade e a subjetividade, sem criar o isolamento do indivíduo, e oferece às crianças a possibilidade de confrontarem situações especiais e problemas como pequenos grupos de camaradas.
É indo ao encontro dessas perspectivas que entendemos as riquíssimas potencialidades deste aprendizado, as quais a Little Maker utiliza como inspiração para pensar tanto a metodologia quanto as ferramentas de documentação para que as descobertas e trajetórias de nossos alunos sejam cada vez mais potentes. Vide “Plataforma Significa”.
Abordagem Escola da Ponte
A Escola da Ponte é uma escola que se fundamenta nas relações entre as pessoas e o aprendizado, partindo dos desejos e sonhos destes indivíduos para trazer o conhecimento, estimulando o trabalho em equipe e a autonomia. Através disso, há o desenvolvimento de uma consciência do que é necessário para cada sujeito aprender, fomentando a dúvida em sistemas diferentes de ensino ou em pessoas que não compartilham dessa vivência se o aluno é capaz de conseguir essa autonomia e se há, de fato, um aprendizado.
Nesta abordagem, PACHECO (2014) entende que:
O levantamento de necessidades surge como uma forma de identificação de prioridades relativamente a objetivos de formação, que possibilite identificar: as características de um presente fluido e em constante transformação e os contornos de uma situação desejável. PACHECO (2014, p.129)
Assim, tanto o aluno quanto o professor ocupam papéis fundamentais neste processo de consciência e autonomia no aprendizado, já que:
De certa forma, para que o aluno seja autônomo ele deve fazer o que quer e nós devemos assumir o papel de orientação e não de condução. Contudo, é muito importante que o aluno se responsabilize pelas suas decisões, e neste momento o orientador deve intervir se tal não acontecer. PACHECO (2014, p.131)
Portanto, na Little Maker, nos apoiamos nestes princípios de autonomia vinculada à responsabilidade para que o aluno se desenvolva enquanto agente de mudanças sociais do meio ao qual está inserido, identificando e exercitando a responsabilidade vinculada aos conhecimentos adquiridos sendo um catalisador deste aprendizado.
Aprendizagem Visível
Segundo John Hattie no livro Aprendizagem Visível para professores, podemos entender os objetivos da Aprendizagem Visível como:
O aspecto “visível” se refere, primeiro, a tornar a aprendizagem do aluno visível aos professores, assegurando a identificação clara dos atributos que fazem uma visível diferença na aprendizagem dos alunos e levam todos na escola a reconhecer visivelmente o impacto que eles apresentam na aprendizagem (dos alunos, dos professores e dos líderes escolares). O aspecto “visível” também se refere a tornar o ensino visível aos alunos, de modo que eles aprendam a se tornar seus próprios professores, que é o atributo central da aprendizagem ou da autorregulação ao longo de toda a vida e do amor pela aprendizagem, que nós tanto queremos que os alunos valorizem. O aspecto da “aprendizagem” se refere a como realizamos os processos de conhecer e compreender e, então, fazer algo a respeito sobre a aprendizagem dos alunos. (HATTIE, 2017, p.1)
Na metodologia da Little Maker, os processos dos cursos e a Plataforma Significa são pensados de forma para o aluno desenvolver a autonomia de seu aprendizado. Ele é responsável por traçar sua trajetória e documentar suas conquistas, a plataforma traz a visibilidade dos resultados realimentando o processo, a fim de que o professor possa estimular e apoiar o aluno quando necessário. Vide “Plataforma Significa”.
Metodologias Ativas
As metodologias ativas vem ganhando cada vez mais espaço no contexto da educação, do ensino infantil ao superior. No livro “Metodologias Ativas para uma Educação Inovadora” encontramos a definição.
A metodologia ativa se caracteriza pela inter-relação entre educação, cultura, sociedade, política e escola, sendo desenvolvida por meio de métodos ativos e criativos, centrados na atividade do aluno com a intenção de propiciar a aprendizagem. (BACICH e MORAN, 2018, p.IX)
É interessante observar que estes princípios já compõem as teorias de aprendizagem e podem ser observados desde a Escola Nova de John Dewey (DEWEY, 1950), como é destacado pelos autores em outro trecho do livro.
Aprendemos o que nos interessa, o que encontra ressonância íntima, o que está próximo do estágio de desenvolvimento em que nos encontramos. Dewey (1950), Freire (1996), Ausubel et al. (1980), Rogers (1973), Piaget (2006), Vygotsky (1998) e Bruner (1976), entre tantos outros e de forma diferente, têm mostrado como cada pessoa (criança ou adulto) aprende de forma ativa, a partir do contexto em que se encontra, do que lhe é significativo, relevante e próximo ao nível de competências que possui. Todos esses autores questionam também o modelo escolar de transmissão e avaliação uniforme de informação para todos os alunos. (BACICH e MORAN, 2018, p.2)
Desta forma, a metodologia da Little Maker segue os princípios das Metodologias Ativas, cujos conceitos enriquecem e ajudam a fundamentar e constituir os princípios e processos de nosso programa. Acreditamos na profundidade do aprendizado significativo a partir da vivência, de forma adaptada ao ritmo e interesse de cada aluno, instrumentado pela Plataforma Significa para um bom acompanhamento do processo.
Design Thinking
Design Thinking ganhou muito destaque nos últimos anos nos processos de inovação de empresas e indústrias. Os autores Ricardo Abelheira e Adriana Melo entendem que:
É uma metodologia que aplica ferramentas do design para solucionar problemas complexos. Propõe o equilíbrio entre o raciocínio associativo, que alavanca a inovação, e o pensamento analítico, que reduz os riscos. Posiciona as pessoas no centro do processo, do início ao fim, compreendendo a fundo suas necessidades. Requer uma liderança ímpar, com habilidade para criar soluções a partir da troca de ideias entre perfis totalmente distintos. (ABELHEIRA & MELO, 2015, p.14)
Em nossa metodologia assimilamos e adotamos diversas ferramentas e processos do Design Thinking, tanto na própria estrutura do programa quanto na apresentação de estratégias para que os alunos se apropriem do que faz sentido, de forma a construírem suas próprias estratégias de solução de problemas e ideação.