Folha papel aprendizagem criativa

O que é Aprendizagem Criativa

A Aprendizagem Criativa defende o aprendizado como produto de um processo exploratório e é um conceito sustentado pelo grupo de pesquisa do MIT Lifelong Kindergarten, dirigido por Mitchel Resnick.

Uma das fontes de inspiração para a iniciativa foi a trajetória de Froebel, criador do jardim de infância. O autor afirma que essa fase é definitiva para a formação dos seres humanos e merece, portanto, atenção especial. Por isso observa-se grande diferença entre o jardim de infância e a escola propriamente dita.

Diferentemente dos demais sistemas de ensino comuns na vida acadêmica que seguem o modelo de transmissão de ensino, durante o jardim de infância o aprendizado é adquirido através de uma conduta ativa da criança ao interagir e se conectar com o mundo, algo que faz principalmente quando há propostas e possibilidades divertidas e envolventes.

Segundo Resnick, em seu livro Lifelong Kindergarten: Cultivating Creativity through Projects, Passion, Peers, and Play, “a aprendizagem baseada no estilo do jardim de infância é exatamente o que é preciso para ajudar as pessoas de todas as idades a desenvolver as capacidades criativas necessárias para prosperar na sociedade de hoje, que vive em constante mudança.”.

Com isso em mente, a Aprendizagem Criativa propõe um processo em que a exploração é a palavra chave. Esse processo parte da Espiral da Aprendizagem Criativa, que consiste nos momentos: Imagine, Crie, Brinque, Compartilhe e Reflita; cada uma dessas etapas traz um nível diferente de compreensão dos aprendizados (mesmo que a criança não perceba que está aprendendo!) e a cada vez que a espiral se repete, toda a bagagem e repertório anterior contribui para um processo ainda mais complexo.

Os Quatro Princípios da Aprendizagem Criativa

Ainda dentro dessa abordagem, encontramos os conceitos dos 4 Ps, princípios orientadores dentro da Aprendizagem Criativa. São eles:

Projetos: trabalhar com projetos permite às crianças mobilizarem diferentes áreas de conhecimento e interesses, exercitando habilidades que já possuem e desenvolvendo novas técnicas.

Paixão: ter espaço para trabalhar com seus próprios interesses incentiva as pessoas a dedicarem mais tempo a seus projetos, aprimorando-os cada vez mais e, durante esse processo, descobrindo novas paixões.

Pares: a ideia de trabalhar em pares pode ser exercida de formas muito variadas, desde a construção em conjunto de fato até trocas específicas de opiniões e experiências durante o processo e até mesmo compartilhando seu trabalho e recebendo feedbacks, o que pode resultar em mais aprendizado pelo trabalho colaborativo e em um projeto mais interessante do que o inicialmente imaginado..

Pensar brincando: acontece quando o ambiente de construção é envolvente, permitindo a exploração e também que os alunos errem e aprendam por meio das descobertas, tornando o processo ainda mais divertido.

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Como combinamos Aprendizagem Criativa e Significativa no Contexto Maker?

Na Little Maker, vinculamos os 4Ps a um projeto 100% autoral aplicando o conceito de Projeto em detrimento de uma transmissão vertical de informação entre aluno e professor, sendo esse baseado não apenas na construção mão-na-massa, mas em um processo de materialização da ideia oriunda dos interesses e demandas do aluno, – como um combustível para dedicação por ser uma temática pela qual tem Paixão, percorrendo trocas significativas entre colegas e professores, configurando trabalho entre Pares, seja em trocas momentâneas ou em construção compartilhada.

Dessa forma, o processo de criação torna-se divertido, exercitando o Pensar Brincando ao expor os jovens a uma condição de aprendizado em um ambiente envolvente.

Na Little Maker aplicamos os 4 P’s a um projeto completamente autoral onde o conceito de Projeto perpassa a transmissão de informação de modo horizontalizado e, não se detendo a construção mão-na-massa, acontece de acordo com a Paixão de cada indivíduo como combustível para a dedicação a cada projeto singular.

Através do trabalho em projetos os estudantes têm a oportunidade de trabalhar em Pares e potencializar suas ideias, aprendendo também a trabalhar em grupo e desenvolver habilidades socioemocionais. Dessa forma, o processo de criação, além de envolvente, torna-se divertido, exercitando o Pensar Brincando e expondo os jovens a um ambiente propício para um aprendizado que acontece organicamente.

A aplicação desses conceitos resulta em uma aprendizagem mais significativa que ajuda a desenvolver habilidades socioemocionais e relações interpessoais dos alunos, bem como permite ao jovem entender que é possível mobilizar os conhecimentos em prol de seus projetos e objetivos de vida.

Ter acesso a um espaço que traga esses valores e conceitos dentro de uma metodologia aplicada é extremamente empoderador e, conforme a criança atinge níveis mais profundos na espiral da aprendizagem criativa por percorrê-la diversas vezes, exercita o autoconhecimento, nutre seus interesses antigos ao passo que descobre novas paixões e se torna mais autônoma, desenvolvendo uma postura mais ativa em relação ao mundo.

Como a abordagem de Reggio Emilia contribui para uma Aprendizagem mais Significativa?

Reggio Emilia é o nome de uma cidade italiana com pouco mais de 170 mil habitantes situada no norte do país, área de destaque econômico por sua produção industrial. Contudo, desde a década de 1990, a cidade tem ganhado destaque mundial devido ao conjunto de escolas e práticas pedagógicas desenvolvidas ali. O que faz com que essas escolas sejam referência na Educação são seus diferenciais, como a valorização da diversidade de linguagens da criança (exploradas no poema “as cem linguagens da criança”, de Loris Malaguzzi) e a participação ativa de membros da comunidade e dos diferentes profissionais que trabalham na escola.

Essa abordagem transdisciplinar continua a ser uma inspiração para diversos lugares do mundo até os dias de hoje por sua preocupação com desenvolvimento intelectual, estético, emocional e social das crianças, especialmente na primeira infância.

Para entendermos um pouco mais sobre os valores e as particularidades dessa abordagem, vamos retomar sua história. Começaremos nos anos que se seguiram ao fim da 2ª Guerra Mundial.

A Primeira Escola

Na década de 1940, a Itália encontrava-se em processo de reconstrução econômica e física da destruição causada por batalhas e bombardeios decorrentes da 2ª Guerra Mundial. Também acontecia a reorganização política e social dos danos causados pelo regime fascista. Percebendo e vivenciando esse contexto, um grupo de moradores de Reggio Emilia reconhece que a educação das crianças era uma responsabilidade partilhada por todos os membros da comunidade e dedica-se à construção de uma escola infantil, a escola 25 de abril.

Loris Malaguzzi, um jovem nascido na região e formado em pedagogia, aproximou-se do projeto e contribuiu em sua construção aliando prática e teoria. A experiência educacional de Reggio (ou reggiana) tem inspiração em teóricos de renome internacional como Jean Piaget, Lev Vygotsky e John Dewey, e também de pedagogos italianos, como Maria Montessori e Bruno Ciari. Entretanto, a abordagem preocupa-se com os contextos cultural, histórico, econômico, científico e humano nos quais está inserida, por isso não se prende a nenhum grande modelo, e sim atende às demandas locais das crianças.

Assim, apesar do nome de Malaguzzi ser considerado referência sobre o tema, devemos compreender que esse olhar para a educação foi construído por todos os envolvidos, sejam eles educadores, psicólogos, pais, além das próprias crianças, protagonistas desse processo de adquirir conhecimento de forma a considerar as suas potencialidades.

Temos então uma escola que é compreendida como um lugar de diálogo e conexão entre os cidadãos, um espaço público de práticas éticas e políticas, vinculadas às práticas culturais e educacionais, fruto da própria reconstrução da comunidade no pós-guerra. É importante frisar que a abordagem adotada pela comunidade de Reggio Emilia sempre se baseou no contexto vivenciado. Por esse motivo, a comunidade, juntamente com o ambiente, são elementos chave para a aprendizagem aqui, pois proporcionam conexões com a realidade das crianças e elementos de seu cotidiano.

Ao longo das décadas seguintes, o projeto cresceu e hoje está sob a responsabilidade da Fundação Reggio Children, que é ligada à municipalidade e administra a rede de escolas. A rede corresponde a grande parte das escolas da região, englobando mais de quarenta escolas, entre creches para crianças de três meses a três anos de vida e escolas infantis para crianças de três a seis anos.

A Abordagem Educacional

A educação reggiana entende a criança de forma integral, considerando suas necessidades intelectuais, estéticas e afetivas na construção do conhecimento. Por este motivo, tem a preocupação com a existência de um ambiente que seja facilitador e estimule o processo de construção de conhecimentos e significados em contato com os outros e com o mundo. Desse modo, o ambiente educativo é organizado para ser um espaço acolhedor e permitir que seus frequentadores (crianças, pais e profissionais da escola) estabeleçam relações tanto com o ambiente, quanto uns com os outros.

Muitas das paredes e divisórias são transparentes para possibilitar que as crianças possam enxergar diferentes perspectivas. Ao final da aula, as salas e ateliês não são organizados para que seja possível a retomada das construções e projetos no próximo dia sem quebrar a continuidade do fio narrativo da aprendizagem – o que mostra, por exemplo, a importância dada ao processo dos pequenos.

Além disso, a formação de comunidades que trabalham em grupo é considerada um elemento potencializador da aprendizagem. Em uma pesquisa conjunta da Reggio Children e do Projeto Zero da universidade de Harvard (que pode ser consultada no livro “Tornando Visível a Aprendizagem. Crianças que Aprendem Individualmente e em Grupo”) os grupos de aprendizagem foram definidos como “um conjunto de pessoas emotiva, intelectual e esteticamente comprometidas com a solução de problemas, com ações realizadas e com a construção de significados – um conjunto em que cada um aprende, tanto de maneira autônoma quanto por meio das modalidades de aprendizagem dos outros”.

Outro ponto valorizado é a ideia de escuta. O termo escuta no contexto dessa abordagem pedagógica deve ser entendido de forma ampla e sinestésica. Não apenas como ouvir, mas como ter sensibilidade e disposição de entender e conhecer o mundo do outro, acolhendo as diferenças e dando valor ao olhar apresentado. Para que seja possível escutar ao outro, é imprescindível desenvolver a capacidade de escutar a si mesmo, trabalhando o autoconhecimento de suas habilidades, opiniões e limitações. Dessa forma, trabalha-se a empatia em um processo de dentro para fora, sendo mais gentil e compreensivo consigo mesmo e estendendo essa habilidade às pessoas de seu convívio e do mundo.

Documentação como forma de dar visibilidade ao processo de aprendizagem

Na experiência de Reggio a documentação é compreendida como parte integrante do processo de aprendizagem pois o torna visível. Esse processo se dá a partir de inúmeras formas de registro ao longo das aulas, buscando sempre captar a importância e essência do momento, seja registrando um aprendizado, um procedimento, uma dificuldade, ou qualquer outro momento que seja importante durante o processo. A documentação permite conhecer e entender as dinâmicas da aprendizagem individual, e também se torna um instrumento que contribui com a aprendizagem tanto individual quanto do grupo, além de ser capaz de registrar nuances que não poderiam ser observadas a partir de um produto final, justamente por serem processuais.

A documentação como parte do processo de aprendizagem demanda a escolha adequada do que se deve valorizar com o registro, esse podendo ser feito a partir de várias formas de linguagem (verbal, gráfica, musical, gestual etc.). Dessa forma, o registro não só acompanha, mas também estimula o conhecimento, questiona e convida ao saber. Portanto, a documentação contribui com a construção de sentidos durante os mais diversos trajetos que ocorrem no processo de aprendizagem.

Também estimulando a metacognição – que diz respeito à autoconsciência de estar aprendendo e discernimento desse processo. Isso porque o registro processual permite que as crianças revisitem seus processos, refletindo sobre suas experiências e aprendizagem, possibilitando novas interpretações de tudo isso a partir de novos contextos.

Little Maker e a abordagem Reggio Emilia

No desenvolvimento de nossa metodologia, buscamos inspiração na experiência de Reggio Emilia. Isso pode ser visto desde o incentivo à formação de grupos de trabalho, a preocupação com um ambiente acolhedor para a criança e suas ideias, a valorização das criações elaboradas pela própria criança, o respeito aos diferentes pontos de vista, até o cuidado com a escuta, que se manifesta inclusive através de registros.

Entendemos a documentação como parte integrante do processo de aprendizagem. Assim, ao longo das aulas, todo o processo de discussão, elaboração e criação é registrado tanto pelo professor, no caso educação infantil, quanto pelos próprios alunos. Isso permite a elaboração de questionamentos ao longo das aulas, a retomada do percurso ao final de um ciclo de projetos e também o acompanhamento dos pais por meio do aplicativo Significa Pais®, integrando os responsáveis nesse processo tão importante para as crianças.

Autonomia na educação: projeto autoral ajuda escolas a engajar alunos

Os pesquisadores Jal Mehta e Sarah Fine, da Universidade de Harvard e da High Graduate School of Education, respectivamente, se depararam com uma informação importante ao realizarem uma pesquisa com alunos do ensino médio. Para a maior parte dos estudantes, a insatisfação e o tédio estão presentes frequentemente.

No entanto, entre aqueles que se apresentavam como engajados e motivados, havia algo em comum: a participação em projetos criativos desenvolvidos em suas instituições de ensino.

Como manter estudantes motivados?

No Brasil, algumas escolas já têm aplicado uma metodologia para engajar alunos a partir de projetos autorais. A ideia central é oferecer mais autonomia para que cada estudante possa descobrir e experimentar suas próprias inclinações, o que pode se refletir também em suas decisões para a carreira que desejam seguir.

Nos métodos mais tradicionais de ensino, em que existe uma relação vertical entre professores e alunos, como evidenciou a pesquisa de Mehta e Fine, os alunos se mantêm mais afastados dos processos e, consequentemente, se envolvem menos.

O que é um projeto autoral?

Podem ser considerados projetos autorais desde a criação de uma pintura sobre tela até o desenvolvimento de um robô. Ou, seja, o projeto autoral é um projeto desenvolvido a partir das intenções do próprio aluno, através de seu percurso pela educação.

Isso faz com que o estudante esteja envolvido de alguma forma em todas as fases do processo de criação e execução, investigando e respondendo questões, desafios e problemas que possam aparecer.

Saiba mais sobre o Maker com projeto autoral para uma aprendizagem significativa

Little Maker: levando uma nova metodologia às escolas

Para Diego Thuler, fundador da Little Maker — que implementa essa metodologia em escolas — o conceito dos projetos autorais, além de oferecer mais autonomia, permite abordagens transdisciplinares, estimulando ainda o uso de diferentes ferramentas e conhecimentos.

“O processo permeia caminhos e alavanca conexões nem sempre previsíveis, colocando o aluno como alguém ativo em relação à aprendizagem”, diz.

A indecisão sobre qual carreira seguir, um problema que atinge 60% dos jovens que estão concluindo o ensino médio no país, de acordo com dados da Cedaspy Professional School (CPS), pode ser resolvida de maneira muito mais simples quando os estudantes já desempenham atividades de criação e pesquisa.

Os trabalhos autorais criam nos jovens uma noção melhor de autoconhecimento, uma vez que eles “aprendem fazendo” o que gostam ou o que não gostam.

Saiba como ter uma Little Maker na sua escola.

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