Referências Pedagógicas

Itinerários Formativos: tudo o que você precisa saber

Os Itinerários Formativos fazem parte do Novo Ensino Médio e permitem que o aluno escolha dentre diversas possibilidades, quais as disciplinas, projetos e oficinas que mais atendem aos seus interesses, aptidões e projetos de vida.

O Novo Ensino Médio, que foi implementado no início de 2022, tem como proposta tornar o estudante protagonista do próprio processo de aprendizagem. Para cumprir os objetivos, ele tem uma organização curricular mais flexível e novas unidades curriculares. 

Os itinerários formativos fazem parte das diretrizes estabelecidas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e todas as escolas que possuem Ensino Médio precisam se adequar. Por isso, é fundamental que você entenda e se aprofunde no assunto. 

Veja abaixo quais são os assuntos abordados neste artigo. 

  • O que são os Itinerários Formativos?
  • Áreas do conhecimento dos Itinerários Formativos
  • Eixos Estruturantes dos Itinerários Formativos

Se você quer aprofundar e aprender todos os detalhes sobre os Itinerários Formativos, leia o material que preparamos até o fim. 

O que são os Itinerários Formativos?

Para explicar os Itinerários Formativos, primeiro é importante compreender como está organizado o Novo Ensino Médio

A Lei nº 13.415/2017 modificou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e promoveu mudanças estruturais no Ensino Médio. Agora, o tempo mínimo do estudante na escola aumentou de 800 horas para 1.000 horas anuais e há uma nova organização curricular. 

Essas mudanças visam garantir uma educação de qualidade a todos os jovens brasileiros e  aproximar as escolas da realidade dos alunos, levando em conta as novas demandas e complexidades do mercado de trabalho e da vida em comunidade.

No Novo Ensino Médio, os estudantes têm uma carga horária de 3.000 horas totais, sendo no máximo de 1.800 horas dedicadas para a Formação Geral Básica e no mínimo 1.200 horas para os Itinerários Formativos.

A Formação Geral Básica é a parte do currículo comum a todos os estudantes e possui as competências e habilidades que fazem parte das áreas do conhecimento. Ou seja, é composta pelas seguintes disciplinas:

  • Língua Portuguesa;
  • Matemática;
  • Literatura;
  • Biologia;
  • Física;
  • Química;
  • Inglês;
  • História;
  • Geografia;
  • Sociologia;
  • Filosofia
  • Artes.

Já os Itinerários Formativos são os componentes curriculares ofertados pelas instituições de ensino que possibilitam que o estudante tenha a autonomia e o protagonismo de escolher sobre qual das áreas de conhecimento deseja se aprofundar:

  • Linguagens e suas Tecnologias;
  • Matemática e suas Tecnologias;
  • Ciências da Natureza e suas Tecnologias;
  • Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.

Também é oferecida ao jovem a possibilidade de realizar Itinerários direcionados à Formação Técnica e Profissional (FTP) ou cursar Itinerários Integrados, que combinam diferentes opções, como duas ou mais áreas do conhecimento ou delas com a FTP. 

É importante salientar que os Itinerários Formativos devem ser estruturados de forma mais dinâmica, com aulas que possibilitem a participação ativa dos estudantes. Portanto, é recomendado que sejam feitos grupos de estudos, oficinas, laboratórios, projetos, dentre outros. 

Ao final dos três anos do Ensino Médio, as instituições de ensino devem entregar aos alunos um certificado de conclusão do Itinerário Formativo ou  FTP realizado. 

Saiba mais sobre cada área do conhecimento dos Itinerários Formativos

Agora que já definimos o que são os Itinerários Formativos, é fundamental entendermos melhor o que cada área do conhecimento aborda. 

Linguagens e suas Tecnologias

O estudante obterá conhecimento na área de Linguagens e suas Tecnologias por meio da aprendizagem ativa dos seguintes componentes:

  • Língua Portuguesa;
  • Arte;
  • Educação Física;
  • Língua Inglesa.

No Ensino Médio, são consolidadas e ampliadas as aprendizagens previstas na BNCC de Ensino Fundamental. Nessa fase, os estudantes são convidados a aprofundar os seus conhecimentos sobre suas emoções, interesses, habilidades intelectuais e expressivas. 

Os jovens também são incentivados a ampliar e aprofundar conexões sociais e afetivas e pensar sobre a vida e o trabalho que eles querem realizar no futuro.

Em Linguagens e suas Tecnologia, são questionados sobre si mesmos e seus projetos de vida, para que atuem de forma ativa na construção de sua jornada.

Tudo isso é feito por meio de práticas que buscam consolidar e ampliar as habilidades de uso e de reflexão sobre as linguagens (artísticas, corporais e verbais), que são objetos de seus diferentes componentes (Arte, Educação Física, Língua Inglesa e Língua Portuguesa). 

Matemática e suas Tecnologias

O estudo de Matemática e suas Tecnologias tem como foco a construção integrada da Matemática, aplicada à realidade em que vivemos.

Os conceitos matemáticos podem ser aplicados em diversos contextos de trabalho como, por exemplo:

  • resolução de problemas e análises complexas, funcionais e não lineares;
  • análise de dados estatísticos e probabilidade;
  • geometria e topologia;
  • robótica;
  • automação;
  • inteligência artificial;
  • programação;
  • jogos digitais;
  • sistemas dinâmicos.

Diante desse contexto, o estudante deverá usar estratégias, conceitos e procedimentos matemáticos para interpretar situações em uma série de contextos. 

Além disso, ele será incentivado a aplicar os conhecimentos adquiridos em atividades cotidianas, fatos das Ciências da Natureza e Humanas ou, ainda, em questões econômicas ou tecnológicas divulgadas por diferentes meios. 

Ciências da Natureza e suas Tecnologias

O estudante dos Itinerários Formativos de Ciências da Natureza e suas Tecnologias aprofunda-se de maneira prática às seguintes disciplinas:

  • Biologia;
  • Física;
  • Química.

As práticas são colocadas de forma a incentivarem os jovens a analisar fenômenos naturais e processos tecnológicos, com base na relação entre matéria e energia, para propor ações individuais e coletivas que melhorem os processos produtivos, minimizem o impacto ambiental na sociedade e melhorem as condições de vida da comunidade local, regional e/ou global.

As competências específicas dessa área do conhecimento são obtidas por meio do incentivo à leitura e análise de materiais de divulgação científica, à comunicação de resultados de pesquisas, à participação de debates, dentre outros.

Ciências Humanas e Sociais Aplicadas

O estudo das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas é feito por meio de um olhar articulado das seguintes disciplinas:

  • Filosofia;
  • História;
  • Geografia;
  • Sociologia.

Por meio da prática dessa área do conhecimento, os estudantes intensificam os questionamentos sobre si próprios e o mundo em que vivem. Isso faz com que eles compreendam temáticas e conceitos utilizados em sala de aula, por meio da problematização de categorias, objetos e processos. 

Assim, é possível propor e questionar hipóteses sobre as ações dos indivíduos que os cercam, identificando pontos de ambiguidade e contradições que se manifestam tanto nos comportamentos individuais, quanto nos processos e estruturas sociais. 

Durante o processo de aprendizagem, são aprofundados conceitos que permitem que o estudante estabeleça diálogos entre indivíduos, grupos sociais e cidadãos de diversas nacionalidades, saberes e culturas distintas.

Formação Técnica e Profissional

O aluno encontrará na Formação Técnica e Profissional a perspectiva da formação humana integral. Ela visa o desenvolvimento de programas educacionais inovadores, que promovam a qualificação efetiva do estudante para o mercado de trabalho.

Quais são os Eixos Estruturantes dos Itinerários Formativos?

A formulação dos Itinerários Formativos devem ser baseados nos procedimentos cognitivos e no uso de metodologias que estimulem o protagonismo dos estudantes. Para orientar as instituições de ensino, foram definidos quatro Eixos Estruturantes pela BNCC. São eles:

  • Investigação científica: ​​utiliza a ciência como base para investigar a  realidade e interpretar ideias. Além disso, promove o conhecimento das práticas científicas e a capacidade de pensar com embasamento metodológico para ajudar a melhorar a qualidade da vida em sociedade.
  • Processos criativos: estimula o conhecimento nos campos da arte, cultura, mídia e atividade criativa, por meio da promoção e do desenvolvimento de práticas e soluções inovadoras que atendam às demandas sociais. 
  • Mediação e intervenção sociocultural: trata-se do conhecimento necessário para a mediação de conflitos, promovendo a compreensão e implementação de soluções para problemas identificados na sociedade.
  • Empreendedorismo: propõe a aplicação dos conceitos e conhecimentos de diferentes áreas para a abertura de empresas, instituições ou organizações de produtos e serviços inovadores. 

Conclusão

Cada vez mais, nota-se a necessidade do jovem de ser o protagonista da sua vida e tomar as suas próprias decisões, com autonomia e segurança. E, para alinhar as instituições de ensino aos estudantes contemporâneos, o Novo Ensino Médio e os Itinerários Formativos foram criados pelo Ministério da Educação.

É essencial que as escolas estejam engajadas a promoverem o ensino dinâmico e prático, demandado pela Geração Z. Isso faz com que os estudantes tenham mais interesse em frequentar a escola, diminuindo a evasão e melhorando os resultados da aprendizagem. 

Vamos juntos nessa jornada? A Little Maker possui o programa Maker Transformador, que é destinado ao Ensino Médio (1º ao 3º ano), seguindo as diretrizes da BNCC. Todo o projeto foi pensado levando em consideração todos os Itinerários Formativos, Componentes Curriculares, Competências Específicas e Habilidades previstas para esta fase.

O programa pode ser aplicado para embasar tanto a Formação Geral Básica quanto os Itinerários, podendo dentro de uma mesma proposta transitar entre diferentes trilhas, uma vez que permite construir soluções alinhadas com os interesses pessoais e projetos de vida. 

Quer saber mais? Vamos conversar. Clique aqui para falar com a Little Maker.  

TEDs Inspiradores

Iniciar um novo ano é uma ótima oportunidade para colocar em prática planos que ficaram na gaveta e iniciar novas mudanças. É pensando nisso que a Little Maker criou uma curadoria super especial de palestras do TED com temas educacionais para começar 2022 inspirando novas práticas e compartilhando ideias que motivam nosso propósito. Esperamos que você goste da coletânea e saia entusiasmado para colocar a “mão na massa”!

 

A vida são os seus talentos descobertos | Sir Ken Robinson | TEDxLiverpool

Abrimos nossa newsletter com o TEDx Talks de Sir Ken Robinson, autor do livro “Somos todos criativos: Os desafios para desenvolver uma das principais habilidades do futuro”, palestrante e consultor internacional de educação. Nesta palestra de julho de 2014, Robinson nos desperta para que busquemos nossos talentos reprimidos, onde o processo de resgate e descobrimento deles, seria o fundamento da sabedoria da vida.

 

A Tecnologia Pode Promover uma Aprendizagem mais Humana? | Diego Thuler | TEDxCariobaStudio

A tecnologia nunca foi efetivamente integrada à sala de aula; foi somente a partir de um processo de distanciamento social que se fez necessário integrá-la totalmente como ferramenta de comunicação e documentação. Neste TEDx, o fundador da Little Maker, Diego Thuler, compartilha seu olhar em relação à tecnologia na educação e como a mesma deve ser incorporada dentro da sala de aula para que efetivamente tenha um papel transformador.

 

Mitch Resnick: Vamos ensinar crianças a escrever códigos

Mitchel Resnick, professor do MIT e diretor do grupo Lifelong Kindergarten, aborda a linguagem dos códigos de programação em sua palestra do TED. Desmitificando que escrever e programar seja somente para algumas pessoas, Resnick demonstra ao decorrer de sua fala que tal linguagem pode ser mais simples do que se imagina, pautando também os benefícios da aprendizagem da escrita de códigos às crianças para que possam mais do que somente ler as tecnologias, mas também terem a possibilidade de criá-las.

 

Our failing schools. Enough is enough! | Geoffrey Canada | Ted Talks Education

Para finalizar nossa newsletter, indicamos esse incrível TED no qual o educador, ativista social e autor Geoffrey Canada aponta problemáticas de sistemas educacionais que se recusam a revisar e renovar suas metodologias mesmo quando é comprovado, através de dados, que muitos de seus estudantes não estão sendo impactados da melhor maneira e estão perdendo em questão de aprendizado. Ele enfatiza a necessidade de tomar atitude frente essa realidade, não desistindo de inovar e ajustar as práticas educacionais a fim de contemplar crianças e adolescentes dos mais diferentes contextos.

 

Avaliação Formativa, crianças reunidas na escola

Avaliação Formativa: entenda esse conceito e como aplicar na sua escola

A avaliação formativa é uma prática que estimula a visão panorâmica do ensino-aprendizagem. Ainda que o aluno continue sendo o foco deste processo, essa avaliação reflete, também, a prática pedagógica do professor.

Muito embora seja qualificada como um método avaliativo, esse tipo de avaliação perde o caráter classificatório e deixa de ser apenas o ponto final do processo, e se coloca como um recurso de observação da trajetória do ensino-aprendizagem. 

Muitos professores certamente já fazem a essa avaliação – intuitivamente ou não. No entanto, para o resultado que se espera dela seja atingido, isto é, o aperfeiçoamento do ensino e da aprendizagem, a avaliação formativa deve ser contínua e sistematizada, sobretudo, desvinculada da praxe quase “punitiva” das avaliações tradicionais.

Neste artigo, vamos abordar os seguintes aspectos sobre avaliação formativa:

  • O que é avaliação?
  • Instrumentos de avaliação
  • Quais os tipos de avaliação interna?
  • O que é avaliação formativa?
  • Quais os benefícios dessa modalidade de avaliação?
  • Características da avaliação formativa
  • Quais são os instrumentos da avaliação formativa?
  • Qual é a função do professor na avaliação formativa?
  • Como se faz uma avaliação formativa?
  • Conclusão
  • Exemplo de avaliação

O QUE É AVALIAÇÃO

A avaliação é o principal recurso que se tem para diagnosticar a evolução da aprendizagem dos alunos. O que cada estudante aprendeu ou não durante um período. Existem dois modelos de avaliação: externa e interna. 

No grupo das avaliações externas, estão todas aquelas que avaliam a qualidade da educação, por meio dos resultados obtidos pelos alunos em provas como ANA, SARESP e ENEM. São essenciais para a tomada de decisões estratégicas para políticas públicas educacionais.

A avaliação interna é realizada pela escola; preparada, aplicada e corrigida pelo professor. Tradicionalmente, a avaliação interna acontece com a aplicação de provas e testes realizados a cada etapa de ensino vencida, visando o currículo.

A avaliação formativa é um dos meios de se executar a avaliação interna. Mas, reforçando, diferentemente das provas comuns, ela não é somatória e acontece ao longo do processo. 

O que a avaliação formativa tem em comum com as demais – diagnóstica e somativa – é que todas podem usar os mesmos instrumentos de avaliação. No entanto, a intencionalidade com a aplicação delas difere, conforme veremos a seguir.

INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO INTERNA

Os recursos utilizados para avaliar a evolução da aprendizagem do aluno são chamados de instrumentos de avaliação. Existem diversos  recursos e atividades, que navegam desde os tradicionais, como provas e simulados, aos mais envolventes e “mão na massa”. 

Estes últimos, inclusive, têm crescido à medida que as escolas percebem a importância da educação maker para a formação de cidadãos mais completos.

A seguir, vamos contextualizar os tipos de avaliação interna, além da avaliação formativa. 

QUAIS OS TIPOS DE AVALIAÇÃO INTERNA?

As avaliações internas podem ser aplicadas antes, durante ou após o processo de aprendizado e desenvolvimento dos conhecimentos pelos estudantes. Lembrando que os recursos e atividades podem ser os mesmos para cada tipo de avaliação interna, mas deve-se considerar a intencionalidade e objetivo de cada uma delas:

Avaliação diagnóstica 

Objetiva entender em que ponto da aprendizagem o aluno está. Vale destacar que a aplicação desta avaliação será de fundamental importância para compreender o nível de aprendizagem dos estudantes no retorno da volta às aulas no contexto pós-pandemia.

Avaliação formativa

Seu objetivo é acompanhar a evolução da aquisição de conhecimento do aluno, ao mesmo tempo em que fornece subsídios para o professor compreender o quão eficiente está sendo seu processo de ensino. Não há atribuição de nota. Permite a coleta de evidências, pelo aluno e pelo professor, da eficiência do ensino-aprendizagem para a correção rápida da rota. O conceito será mais amplamente explorado a seguir, inclusive com exemplos. 

Avaliação somativa (ou classificatória)

Identifica o nível de aprendizagem alcançado pelo estudante ao final do curso ou de uma unidade de ensino, com a atribuição de uma nota. É muito mais quantitativa do que qualitativa. Baseia-se em rendimento alcançado versus objetivos previstos.

O QUE É AVALIAÇÃO FORMATIVA?

A principal função dessa avaliação é se destacar das avaliações internas nos moldes tradicionalistas, classificatórios. Para isso, precisa avaliar o aluno continuamente e em ocasiões diferentes. Ao mesmo tempo, deve produzir dados para o professor. 

Mais do que simplesmente “verificar” se o aluno aprendeu (em alguns casos, decorou) a matéria, essa modalidade de avaliação permite detectar os pontos fracos do ensino-aprendizagem, inclusive do próprio método do professor, e possibilitar meios de formação que respondam às características individuais dos alunos.

Esses personagens têm a oportunidade de perceber seus erros e acertos e transformar rapidamente suas práticas, sem negligenciar, evidentemente, as etapas vencidas com sucesso. 

QUAIS OS BENEFÍCIOS DA AVALIAÇÃO FORMATIVA?

Com essa avaliação há, efetivamente, a integração entre avaliação, ensino e aprendizagem.

Para a educação moderna, a avaliação formativa é indispensável. Ela dá mais agilidade à reorientação do “como” se ensina e se aprende. Respeita o ritmo de aprendizagem de cada aluno e fornece dados ricos para o professor ajustar a sua prática didático-pedagógica.

E mais: essa avaliação permite um entendimento ainda maior pelos pais e tutores dos alunos, quando esclarece o que se espera de cada projeto, isto é, a intencionalidade pedagógica, e coleta as evidências do professor e do aluno quanto às competências desenvolvidas. 

CARACTERÍSTICAS DA AVALIAÇÃO FORMATIVA

“Muitos professores dizem praticar a avaliação formativa, só que a fazem muitas vezes sem terem perfeita consciência das suas potencialidades pedagógicas e sem uma prática regular, exigente, sistemática desta modalidade de avaliação (Barreira, 2001; Barreira & Pinto, 2005).”

Essa avaliação não tem uma frequência preestabelecida como acontece com a avaliação somativa – uma semana de provas, por exemplo. A formativa não é engessada tal como as demais, no entanto, para que as evidências sejam coletadas e gerem dados potentes ao aprendizado, ela precisa ser contínua, cumulativa e sistemática:

Contínua 

A aprendizagem do aluno não pode ser medida apenas por uma ação realizada ao fim do bimestre ou do trimestre, mas deve resultar do desenvolvimento e acompanhamento ao longo das aulas. É preciso, no entanto, planejamento. Mesmo um simples diálogo com a turma pode ser usado em uma avaliação formativa, mas precisa ter um objetivo claro e as perguntas certas.

Cumulativa

Porque a avaliação não pode ser um instrumento meramente quantitativo. É preciso que, a partir da avaliação formativa, sejam extraídos os dados que orientem e deem pistas do progresso da aprendizagem. 

Sistemática

O registro e coleta das evidências são fundamentais para o professor e o aluno conseguirem identificar quais objetivos foram ou não atendidos e a forma como cada um constrói sua trajetória de desenvolvimento. Não apenas para entender se resultados foram alcançados, mas quais foram e como tem sido a evolução da aprendizagem.

A aplicação da avaliação formativa contínua e sistematicamente gera dados para o professor identificar as mudanças necessárias em suas práticas e intervir rapidamente nas dificuldades dos alunos, seja com a classe ou com um estudante especificamente. 

Por outro lado, como sempre, é importante planejar: o que será avaliado, para que e como será feita a avaliação. E aqui entra a seleção e identificação dos instrumentos para a avaliação formativa.

QUAIS SÃO OS INSTRUMENTOS DA AVALIAÇÃO FORMATIVA?

A diversidade dos instrumentos dessa modalidade de avaliação é tão ampla quanto a criatividade do professor. Entretanto, a avaliação formativa pode se valer dos mesmos recursos e atividades das avaliações tradicionais. O que muda é a intencionalidade de usá-la como ferramenta de aprendizagem e não como finalidade.

Trouxemos alguns exemplos de recursos e atividades que podem ser usados como instrumentos:

Atividade múltipla escolha

É prática e objetiva e promove resultados rápidos. O cuidado está em preparar perguntas absolutamente claras e alternativas sem ambiguidade. 

Atividade de resposta construída

Um pouco mais trabalhosa, mas indispensável. Podem ser orais ou escritas, de respostas objetivas (mais curtas) ou respostas subjetivas. 

Autoavaliação

Talvez a mais importante atividade da avaliação formativa. Quando o aluno tem a chance de analisar sua trajetória de aprendizado, ter consciência das competências consolidadas e de suas dificuldades. É uma ferramenta de autonomia que permite ao estudante assumir o protagonismo de seu desenvolvimento e compartilhar com o professor a responsabilidade sobre sua formação. O cuidado: criar quesitos objetivos e que ajudem o aluno a refletir sobre seu desempenho na atividade.  

Portfólio

O portfólio é um instrumento que documenta as etapas de um projeto ou um conjunto de atividades realizadas pelos alunos. Para servirem à prática formativa, o professor precisa acompanhar a construção dessa documentação, viabilizando feedbacks e oportunidades de ajustes acerca do processo e dos resultados obtidos. 

Embora haja diversidade de instrumentos, é função do professor planejar a avaliação formativa. Afinal, é ele quem sabe quais são os objetivos de cada unidade de ensino e o que se espera obter a partir de cada projeto realizado. Mas, esse não é o único papel do professor com a avaliação formativa.

QUAL É A FUNÇÃO DO PROFESSOR NA AVALIAÇÃO FORMATIVA?

O professor tem papel transformador no processo educacional e, por meio dessa avaliação, tem a chance de melhorar significativamente a aprendizagem dos alunos e o seu modo de ensinar. 

Nesta avaliação, o professor precisa planejar suas atividades, definir os objetivos de cada aplicação, selecionar os melhores instrumentos, dar feedback construtivo para o aluno, bem como, preparar o estudante para fazer sua autoavaliação. 

Também é função do professor viabilizar a coleta e registro de evidências a cada atividade formativa e oferecer uma comunicação clara e efetiva com os gestores, pais e tutores dos alunos. 

Sobretudo, o papel do professor nessa avaliação é permitir que o aluno seja cada vez mais protagonista de sua aprendizagem. Em contrapartida, que sua prática didática seja sempre mais efetiva.

COMO SE FAZ UMA AVALIAÇÃO FORMATIVA?

Resgatamos as 3 perguntas básicas que devem ser respondidas antes de fazer a avaliação formativa: o que se quer avaliar, para quê e, como.

Além disso, como a avaliação formativa não tem uma frequência obrigatória – ela apenas precisa ser contínua – as evidências das atividades precisam ser registradas. 

Quanto mais recursos a escola puder fornecer para os professores aplicarem a atividade e registrarem suas percepções, assim como, quanto mais fácil for para os alunos fazerem sua autoavaliação, maiores as chances do sucesso com a avaliação formativa. 

E, se ainda for possível disponibilizar aos pais e tutores meios de acompanharem o que se espera com cada atividade e o que foi atingido, é ainda melhor.   

CONCLUSÃO

A avaliação formativa é uma das formas de superar objeções de pais, inquietações de alunos e insatisfação dos professores quanto às práticas de ensino-aprendizagem atuais.

É evidente que a educação moderna já não suporta avaliar os alunos apenas pelos métodos tradicionais, quantitativos. Avaliar deve significar a qualidade do que foi aprendido, entender onde estão as falhas e quais ações adotar para mitigá-las. 

Por isso, a avaliação formativa é um instrumento mais completo que o modelo avaliativo atual. Ela significa a avaliação para o ensino e para a aprendizagem de forma ampla e com qualidade. 

A avaliação formativa não é um sonho distante. Ela pode fazer a diferença em sua escola ainda neste ano. 

EXEMPLO DE AVALIAÇÃO FORMATIVA

A Plataforma Significa é um aplicativo que ajuda a escola a estruturar e aplicar essa avaliação, bem como, registrar as evidências, envolvendo alunos, professores, pais e a gestão pedagógica. 

A Plataforma, surgiu a partir das atividades “mão na massa” da Little Maker e hoje pode ser implementada em outras atividades pedagógicas que a escola já faz, como: Trabalhos e Pesquisas, Feiras e Mostras, Investigação Científica, Festas e Festivais, Vivências Externas, Argumentação e Perspectivas, entre outros. 

Para cada atividade são propostos instrumentos de avaliação formativa pré-formatados, além de ser possível adicionar outras atividades. Conheça a Plataforma Significa hoje mesmo. Disponível para computadores, smartphones e tablets.   

Folha papel aprendizagem criativa

O que é Aprendizagem Criativa

A Aprendizagem Criativa defende o aprendizado como produto de um processo exploratório e é um conceito sustentado pelo grupo de pesquisa do MIT Lifelong Kindergarten, dirigido por Mitchel Resnick.

Uma das fontes de inspiração para a iniciativa foi a trajetória de Froebel, criador do jardim de infância. O autor afirma que essa fase é definitiva para a formação dos seres humanos e merece, portanto, atenção especial. Por isso observa-se grande diferença entre o jardim de infância e a escola propriamente dita.

Diferentemente dos demais sistemas de ensino comuns na vida acadêmica que seguem o modelo de transmissão de ensino, durante o jardim de infância o aprendizado é adquirido através de uma conduta ativa da criança ao interagir e se conectar com o mundo, algo que faz principalmente quando há propostas e possibilidades divertidas e envolventes.

Segundo Resnick, em seu livro Lifelong Kindergarten: Cultivating Creativity through Projects, Passion, Peers, and Play, “a aprendizagem baseada no estilo do jardim de infância é exatamente o que é preciso para ajudar as pessoas de todas as idades a desenvolver as capacidades criativas necessárias para prosperar na sociedade de hoje, que vive em constante mudança.”.

Com isso em mente, a Aprendizagem Criativa propõe um processo em que a exploração é a palavra chave. Esse processo parte da Espiral da Aprendizagem Criativa, que consiste nos momentos: Imagine, Crie, Brinque, Compartilhe e Reflita; cada uma dessas etapas traz um nível diferente de compreensão dos aprendizados (mesmo que a criança não perceba que está aprendendo!) e a cada vez que a espiral se repete, toda a bagagem e repertório anterior contribui para um processo ainda mais complexo.

Os Quatro Princípios da Aprendizagem Criativa

Ainda dentro dessa abordagem, encontramos os conceitos dos 4 Ps, princípios orientadores dentro da Aprendizagem Criativa. São eles:

Projetos: trabalhar com projetos permite às crianças mobilizarem diferentes áreas de conhecimento e interesses, exercitando habilidades que já possuem e desenvolvendo novas técnicas.

Paixão: ter espaço para trabalhar com seus próprios interesses incentiva as pessoas a dedicarem mais tempo a seus projetos, aprimorando-os cada vez mais e, durante esse processo, descobrindo novas paixões.

Pares: a ideia de trabalhar em pares pode ser exercida de formas muito variadas, desde a construção em conjunto de fato até trocas específicas de opiniões e experiências durante o processo e até mesmo compartilhando seu trabalho e recebendo feedbacks, o que pode resultar em mais aprendizado pelo trabalho colaborativo e em um projeto mais interessante do que o inicialmente imaginado..

Pensar brincando: acontece quando o ambiente de construção é envolvente, permitindo a exploração e também que os alunos errem e aprendam por meio das descobertas, tornando o processo ainda mais divertido.

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Como combinamos Aprendizagem Criativa e Significativa no Contexto Maker?

Na Little Maker, vinculamos os 4Ps a um projeto 100% autoral aplicando o conceito de Projeto em detrimento de uma transmissão vertical de informação entre aluno e professor, sendo esse baseado não apenas na construção mão-na-massa, mas em um processo de materialização da ideia oriunda dos interesses e demandas do aluno, – como um combustível para dedicação por ser uma temática pela qual tem Paixão, percorrendo trocas significativas entre colegas e professores, configurando trabalho entre Pares, seja em trocas momentâneas ou em construção compartilhada.

Dessa forma, o processo de criação torna-se divertido, exercitando o Pensar Brincando ao expor os jovens a uma condição de aprendizado em um ambiente envolvente.

Na Little Maker aplicamos os 4 P’s a um projeto completamente autoral onde o conceito de Projeto perpassa a transmissão de informação de modo horizontalizado e, não se detendo a construção mão-na-massa, acontece de acordo com a Paixão de cada indivíduo como combustível para a dedicação a cada projeto singular.

Através do trabalho em projetos os estudantes têm a oportunidade de trabalhar em Pares e potencializar suas ideias, aprendendo também a trabalhar em grupo e desenvolver habilidades socioemocionais. Dessa forma, o processo de criação, além de envolvente, torna-se divertido, exercitando o Pensar Brincando e expondo os jovens a um ambiente propício para um aprendizado que acontece organicamente.

A aplicação desses conceitos resulta em uma aprendizagem mais significativa que ajuda a desenvolver habilidades socioemocionais e relações interpessoais dos alunos, bem como permite ao jovem entender que é possível mobilizar os conhecimentos em prol de seus projetos e objetivos de vida.

Ter acesso a um espaço que traga esses valores e conceitos dentro de uma metodologia aplicada é extremamente empoderador e, conforme a criança atinge níveis mais profundos na espiral da aprendizagem criativa por percorrê-la diversas vezes, exercita o autoconhecimento, nutre seus interesses antigos ao passo que descobre novas paixões e se torna mais autônoma, desenvolvendo uma postura mais ativa em relação ao mundo.

criatividade na educação maker

Criatividade na Educação: O Exercício da Criatividade no Século XXI

Mudar a forma como olhamos para o mundo e agimos nele é uma demanda urgente.

Ela se encontra em pauta nas reuniões de cúpula, em movimentos sociais, em documentos como a Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) e na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), especificamente no Brasil. A BNCC surge como forma de repensar a educação para que ela fique mais próxima dessas transformações sociais, formando o sujeito de modo integral e preparando estudantes para desafios futuros que estão além da escolarização.

Repensar os modelos atuais para ensinar indivíduos a lidar com um mundo em transformação não é apenas uma preocupação brasileira. O processo de repensar a educação tradicional é um movimento global e, dentro das competências e habilidades a serem desenvolvidas, a criatividade é uma das que mais tem chamado a atenção nos últimos anos, principalmente quando falamos em educação no Brasil.

Dentre as competências gerais da BNCC, alguns tópicos, como o Pensamento Científico, Crítico e Criativo e Trabalho e Projeto de Vida, que podem ser vistos na organização que o Porvir realizou, evidenciam que a educação brasileira está disposta a tomar rumos menos tradicionais valorizando a diversidade de saberes e vivências culturais, propondo a reflexão sobre o diferente, a análise crítica, a imaginação e a criatividade para formar indivíduos preparados para um mundo VUCA (acrônimo das palavras em inglês volatility, uncertainty, complexity e ambiguity), traduzido em português como um mundo “VICA” volátil, incerto, complexo e ambíguo.

Tendo em vista essas e outras novas demandas da vida em sociedade, tornou-se necessário voltar a atenção para questões que, apesar de já serem discutidas há algum tempo, nunca estiveram em uma posição de tanto destaque quanto agora. Entre elas, encontramos tópicos como a relação do indivíduo com o mundo, a educação integral que valoriza também as habilidades socioemocionais e a criatividade, temática na qual daremos enfoque nesse texto.

Como funciona a criatividade?

Criatividade não é sobre genialidade. Criatividade é sobre o contato com o diferente, usar caminhos incomuns, trabalhar em pares, ter um ambiente propício.

Fayga Ostrower, em seu livro Criatividade e Processos de Criação, desmistifica uma das maiores barreiras sobre a criatividade: a artista e autora tira o caráter puramente inconsciente, como se esta fosse uma inspiração súbita e inseparável da genialidade e entende a criatividade como o potencial humano, um exercício da liberdade imaginativa, mas também um reflexo do nosso contato com o que é externo a nós.

Corroborando com a tese de Ostrower na qual, para a autora, a criatividade é não só uma condição e exploração humana, mas um exercício social, David Eagleman, no documentário que estrela produzido pela Netflix Como o Cérebro Cria, tenta destrinchar a criatividade e a forma como ela acontece no cérebro. Partindo da pergunta “como o cérebro cria?”, Eagleman entrevista diferentes pessoas para entender diferentes tipos de processos criativos e percebe que combinar diferentes estímulos sem ser levado por respostas automáticas, ter contato com o pouco usual, criar repertório e estar aberto a críticas com diferentes experiências e olhares são formas de potencializar a criatividade e é não só o que nos ajuda a criar, mas também a sistematizar esses conteúdos aos quais fomos sensibilizados e abre o leque de caminhos pelo qual o indivíduo pode trilhar.

No livro Aqui Dentro encontramos, de forma simples, quais são as fases do ato criativo. São elas:

  • a preparação, onde o período de estudo e trabalho acontece de forma consciente;
  • a incubação, quando o período de trabalho é inconsciente e todo o estudo é decantado;
  • a inspiração, que acontece quando a incubação é bem sucedida, surgindo uma solução para o proposto inicial; e
  • a concretização, quando a inspiração é verificada e colocada em prática.

Essas quatro fases da criatividade conversam diretamente com os 4 princípios da aprendizagem criativa, uma abordagem que defende o aprendizado a partir um processo exploratório. Dessa forma, a aprendizagem criativa se mostra uma alternativa potenciadora para o exercício e desenvolvimento da criatividade na educação. Em especial, trabalhar em projetos por meio de parceria pode ser o diferencial dentro do processo criativo no ambiente escolar.

Criatividade aplicada à educação

O potencial criativo existe em todas as áreas do conhecimento e, além disso, a criatividade vem acompanhada por sentimentos de satisfação, inclusão em um grupo, bem estar emocional e saúde mental.

Sendo a criatividade uma forma de sistematizar conhecimentos e compreendê-los, exercitá-la é uma forma de aprender, construir laços e conhecer mais de si e do próprio processo de aprendizagem.

A sociedade contemporânea tem como desafio sua complexidade, mutabilidade e incerteza e é necessário saber adaptar-se, e essa flexibilidade é uma das características da criatividade na educação. Quando se tem contato com o outro tendemos a ter mais tolerância à ambiguidades e a aceitar desafios cada vez mais complexos.

O ensino tradicional brasileiro hoje ainda não se descobriu um campo fértil para o desenvolvimento da criatividade em toda sua capacidade, e isso pode minar parte fundamental da expressão do indivíduo. O ensino baseado em um conteúdo fechado não auxilia os estudantes a descobrirem as respostas por si e explorarem diferentes nuances do mesmo conteúdo, conseguindo olhar para ele por diferentes ângulos.

O apoio dos pares é fundamental para um ensino mais plural e diverso e expressar-se é também uma forma de ensinar autonomia.

Como a Little Maker trabalha a criatividade na educação?

Todos podem ser criativos. A criatividade é um hábito e, ao ser incentivada e valorizada, faz com que as crianças aprendam essa cultura desde pequenos e se tornem adultos confiantes, autossuficientes e capazes de criar no mundo a sua volta.

A Little Maker tem como objetivo sempre oferecer um chão baixo, para que todos possam começar a criar e aprender, sem serem impedidos de criar por não terem determinado conhecimento, falta de habilidade, domínio de uma técnica ou falta de ferramentas e possibilidades; um teto alto, para que todos tenham a possibilidade de crescer em seus projetos e se sentirem desafiados, e também não se sintam desinteressados quando superarem o nível de complexibilidade do que construíram; e paredes largas para que as possibilidades sejam amplas o suficiente para desenvolver a criatividade e curiosidade de cada indivíduo, seguindo, dessa forma inúmero caminhos diferentes, de acordo com os interesses de cada um.

Usamos de oficinas que incentivam os estudantes a desenvolver a criatividade, ajudando a formar pessoas cujas habilidades de inovar e empreender novos desafios sejam inerentes a sua curiosidade em todas as esferas da vida.

A criatividade é fazer escolhas onde os caminhos, ao invés de afinarem, se expandem em novas possibilidades e mostram que um mundo inteiro é possível. Conheça mais sobre nossa metodologia.

Saiba como ter uma Little Maker na sua escola.

Bibliografia

OSTROWER, Fayga. Criatividade e Processos de Criação. 31º Edição. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1977.
ALENCAR, Eunice M. L. Soriano de. Criatividade no contexto educacional: Três décadas de pesquisa. Revista Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, vol 23, pp. 045 – 049, 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ptp/v23nspe/07.pdf
MINHÓS, Isabel; PEDROSA, Maria; MATOSO, Madalena. Aqui Dentro. São Paulo: Editora SESI, 2018.
Como o Cérebro Cria. Direção por Jennifer Beamish e Toby Trackman, roteiro por David Eagleman. Estados Unidos da América: Netflix, 2019. Acesso em 04 de fevereiro de 2020.
BAHIA, Sara; NOGUEIRA, Sara Ibérico. Entre a Teoria e a prática da Criatividade. In: VEIGA, Feliciano H. (org). Psicologia da Educação. Lisboa: Climpesi Editores, 2013. Disponível em https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2721/1/entre-a-teoria-e-a-prática.pdf

Como a abordagem de Reggio Emilia contribui para uma Aprendizagem mais Significativa?

Reggio Emilia é o nome de uma cidade italiana com pouco mais de 170 mil habitantes situada no norte do país, área de destaque econômico por sua produção industrial. Contudo, desde a década de 1990, a cidade tem ganhado destaque mundial devido ao conjunto de escolas e práticas pedagógicas desenvolvidas ali. O que faz com que essas escolas sejam referência na Educação são seus diferenciais, como a valorização da diversidade de linguagens da criança (exploradas no poema “as cem linguagens da criança”, de Loris Malaguzzi) e a participação ativa de membros da comunidade e dos diferentes profissionais que trabalham na escola.

Essa abordagem transdisciplinar continua a ser uma inspiração para diversos lugares do mundo até os dias de hoje por sua preocupação com desenvolvimento intelectual, estético, emocional e social das crianças, especialmente na primeira infância.

Para entendermos um pouco mais sobre os valores e as particularidades dessa abordagem, vamos retomar sua história. Começaremos nos anos que se seguiram ao fim da 2ª Guerra Mundial.

A Primeira Escola

Na década de 1940, a Itália encontrava-se em processo de reconstrução econômica e física da destruição causada por batalhas e bombardeios decorrentes da 2ª Guerra Mundial. Também acontecia a reorganização política e social dos danos causados pelo regime fascista. Percebendo e vivenciando esse contexto, um grupo de moradores de Reggio Emilia reconhece que a educação das crianças era uma responsabilidade partilhada por todos os membros da comunidade e dedica-se à construção de uma escola infantil, a escola 25 de abril.

Loris Malaguzzi, um jovem nascido na região e formado em pedagogia, aproximou-se do projeto e contribuiu em sua construção aliando prática e teoria. A experiência educacional de Reggio (ou reggiana) tem inspiração em teóricos de renome internacional como Jean Piaget, Lev Vygotsky e John Dewey, e também de pedagogos italianos, como Maria Montessori e Bruno Ciari. Entretanto, a abordagem preocupa-se com os contextos cultural, histórico, econômico, científico e humano nos quais está inserida, por isso não se prende a nenhum grande modelo, e sim atende às demandas locais das crianças.

Assim, apesar do nome de Malaguzzi ser considerado referência sobre o tema, devemos compreender que esse olhar para a educação foi construído por todos os envolvidos, sejam eles educadores, psicólogos, pais, além das próprias crianças, protagonistas desse processo de adquirir conhecimento de forma a considerar as suas potencialidades.

Temos então uma escola que é compreendida como um lugar de diálogo e conexão entre os cidadãos, um espaço público de práticas éticas e políticas, vinculadas às práticas culturais e educacionais, fruto da própria reconstrução da comunidade no pós-guerra. É importante frisar que a abordagem adotada pela comunidade de Reggio Emilia sempre se baseou no contexto vivenciado. Por esse motivo, a comunidade, juntamente com o ambiente, são elementos chave para a aprendizagem aqui, pois proporcionam conexões com a realidade das crianças e elementos de seu cotidiano.

Ao longo das décadas seguintes, o projeto cresceu e hoje está sob a responsabilidade da Fundação Reggio Children, que é ligada à municipalidade e administra a rede de escolas. A rede corresponde a grande parte das escolas da região, englobando mais de quarenta escolas, entre creches para crianças de três meses a três anos de vida e escolas infantis para crianças de três a seis anos.

A Abordagem Educacional

A educação reggiana entende a criança de forma integral, considerando suas necessidades intelectuais, estéticas e afetivas na construção do conhecimento. Por este motivo, tem a preocupação com a existência de um ambiente que seja facilitador e estimule o processo de construção de conhecimentos e significados em contato com os outros e com o mundo. Desse modo, o ambiente educativo é organizado para ser um espaço acolhedor e permitir que seus frequentadores (crianças, pais e profissionais da escola) estabeleçam relações tanto com o ambiente, quanto uns com os outros.

Muitas das paredes e divisórias são transparentes para possibilitar que as crianças possam enxergar diferentes perspectivas. Ao final da aula, as salas e ateliês não são organizados para que seja possível a retomada das construções e projetos no próximo dia sem quebrar a continuidade do fio narrativo da aprendizagem – o que mostra, por exemplo, a importância dada ao processo dos pequenos.

Além disso, a formação de comunidades que trabalham em grupo é considerada um elemento potencializador da aprendizagem. Em uma pesquisa conjunta da Reggio Children e do Projeto Zero da universidade de Harvard (que pode ser consultada no livro “Tornando Visível a Aprendizagem. Crianças que Aprendem Individualmente e em Grupo”) os grupos de aprendizagem foram definidos como “um conjunto de pessoas emotiva, intelectual e esteticamente comprometidas com a solução de problemas, com ações realizadas e com a construção de significados – um conjunto em que cada um aprende, tanto de maneira autônoma quanto por meio das modalidades de aprendizagem dos outros”.

Outro ponto valorizado é a ideia de escuta. O termo escuta no contexto dessa abordagem pedagógica deve ser entendido de forma ampla e sinestésica. Não apenas como ouvir, mas como ter sensibilidade e disposição de entender e conhecer o mundo do outro, acolhendo as diferenças e dando valor ao olhar apresentado. Para que seja possível escutar ao outro, é imprescindível desenvolver a capacidade de escutar a si mesmo, trabalhando o autoconhecimento de suas habilidades, opiniões e limitações. Dessa forma, trabalha-se a empatia em um processo de dentro para fora, sendo mais gentil e compreensivo consigo mesmo e estendendo essa habilidade às pessoas de seu convívio e do mundo.

Documentação como forma de dar visibilidade ao processo de aprendizagem

Na experiência de Reggio a documentação é compreendida como parte integrante do processo de aprendizagem pois o torna visível. Esse processo se dá a partir de inúmeras formas de registro ao longo das aulas, buscando sempre captar a importância e essência do momento, seja registrando um aprendizado, um procedimento, uma dificuldade, ou qualquer outro momento que seja importante durante o processo. A documentação permite conhecer e entender as dinâmicas da aprendizagem individual, e também se torna um instrumento que contribui com a aprendizagem tanto individual quanto do grupo, além de ser capaz de registrar nuances que não poderiam ser observadas a partir de um produto final, justamente por serem processuais.

A documentação como parte do processo de aprendizagem demanda a escolha adequada do que se deve valorizar com o registro, esse podendo ser feito a partir de várias formas de linguagem (verbal, gráfica, musical, gestual etc.). Dessa forma, o registro não só acompanha, mas também estimula o conhecimento, questiona e convida ao saber. Portanto, a documentação contribui com a construção de sentidos durante os mais diversos trajetos que ocorrem no processo de aprendizagem.

Também estimulando a metacognição – que diz respeito à autoconsciência de estar aprendendo e discernimento desse processo. Isso porque o registro processual permite que as crianças revisitem seus processos, refletindo sobre suas experiências e aprendizagem, possibilitando novas interpretações de tudo isso a partir de novos contextos.

Little Maker e a abordagem Reggio Emilia

No desenvolvimento de nossa metodologia, buscamos inspiração na experiência de Reggio Emilia. Isso pode ser visto desde o incentivo à formação de grupos de trabalho, a preocupação com um ambiente acolhedor para a criança e suas ideias, a valorização das criações elaboradas pela própria criança, o respeito aos diferentes pontos de vista, até o cuidado com a escuta, que se manifesta inclusive através de registros.

Entendemos a documentação como parte integrante do processo de aprendizagem. Assim, ao longo das aulas, todo o processo de discussão, elaboração e criação é registrado tanto pelo professor, no caso educação infantil, quanto pelos próprios alunos. Isso permite a elaboração de questionamentos ao longo das aulas, a retomada do percurso ao final de um ciclo de projetos e também o acompanhamento dos pais por meio do aplicativo Significa Pais®, integrando os responsáveis nesse processo tão importante para as crianças.

Projeto Autoral Little Maker

Como surgiu a Educação Maker no Brasil?

Vivenciamos o crescente ingresso da Educação Maker nas escolas brasileiras, especialmente motivado pelas novas demandas de um mundo repleto de informações e constantes mudanças tecnológicas, somado à busca por metodologias ativas de aprendizagem. 

O surgimento da Educação Maker no Brasil está relacionado à Cultura e ao Movimento Maker. Porém, para que possamos acompanhar a evolução da Educação Maker aqui, é necessário entender os usos e origens desses três termos e as relações que estabelecem entre si: Movimento, Cultura e Educação Maker.

O MOVIMENTO MAKER

O movimento maker é baseado nos movimentos Do It Yourself (faça você mesmo) e Do It Together (façamos juntos), que incentivam as pessoas a fazerem pequenos reparos e construções domésticas com as próprias mãos, sozinhas ou em conjunto. Essas práticas promovem laços entre os indivíduos e reforçam a ideia de comunidade.

Assim, o Movimento Maker tornou-se tendência, impulsionado pelo acesso a novas tecnologias, também disponíveis a um público mais amplo. Na medida em que crescia, ele contribuía para o início da Cultura Maker.

A CULTURA MAKER

O principal marco é o The Maker Movement Manifesto, o Manifesto do Movimento Maker, de Mark Hatch (2013). O subtítulo, “Rules for Innovation in the New World of Crafters, Hackers, and Tinkerers” elenca valores fundamentais para a cultura Maker:

  • O termo craft tradicionalmente refere-se à ideia de criar ou fazer algo; também carrega a conotação de possuir uma habilidade ou um conhecimento específico;
  • Enquanto a palavra tinkers é derivada do termo tin (estanho), sendo historicamente utilizada para referir-se ao profissional que conserta, monta e desmonta objetos feitos de ligas metálicas, fazendo reparos e melhorias;
  • Além disso, a palavra hacker, indica aqueles que têm habilidades nas áreas de tecnologia e as usam para quebrar códigos e romper sistemas, inclusive para o bem!

A partir de então, tem início o que é a Cultura Maker: um conjunto de comportamentos, conhecimentos, valores, crenças e costumes que têm como base a ideia de que pessoas podem se envolver em projetos que as façam se sentir capazes de construir coisas novas, gerando seu empoderamento. 

Também dá espaço para o “aprender fazendo” e ao trabalho em equipe, pois ao compartilharem experiências umas com as outras, as pessoas constroem redes e apoiam-se mutuamente ao longo do processo.

A EDUCAÇÃO MAKER

Com o passar dos anos o Maker se aproxima da educação, gerando diferentes interpretações e adaptações de dinâmica. Assim, ganham destaque duas formas distintas de pensar a educação maker, uma com enfoque nas competências e habilidades desenvolvidas na criação e construção de projetos; e outra resumindo o maker às ferramentas e tecnologias de sua oficina.  

Este texto apresenta a Educação Maker cuja vertente é o desenvolvimento das competências e habilidades, por enxergar o grande potencial que essa abordagem traz ao ser conectada com grandes teorias da educação e com as demandas do século XXI. 

No contexto educacional, o Movimento Maker pode dialogar com as teorias construtivistas que partem de Jean Piaget, visto que compartilham o foco na construção de conhecimento multidisciplinar, partindo da interação e participação ativa do aprendiz com o meio, e seguindo as demandas cognitivas próprias relacionadas à fase de desenvolvimento pessoal na qual ele se encontra.

Uma corrente teórica que estabelece ainda mais relações entre Movimento e Educação Maker é o Construcionismo, elaborado por Seymour Papert, que também se preocupa com a questão do meio pelo qual a aprendizagem se dá. Um notório conceito apresentado por Papert ao longo de sua obra é o de Micromundo.

O Micromundo é um espaço de exploração que serve como ponto de partida para as criações das crianças. Pode ser elaborado de várias formas a partir de vertentes diferentes, sejam elas ferramentas ou contextos lúdicos ou reais, com articulação entre seus elementos de acordo com os interesses do aprendiz.

As teorias educacionais de Piaget e Papert tiveram papel essencial para que aplicar a Cultura Maker na educação pudesse ser entendido como uma possibilidade do processo de ensino aprendizagem

Assim, a Educação Maker apresentou-se como uma alternativa extremamente promissora quando comparada tanto com modelos tradicionais, quanto como proposta completamente inovadora.

Dessa forma, a Educação Maker:

  • incentiva atitudes importantes para a formação integral do indivíduo;
  • desenvolve habilidades socioemocionais e cognitivas que otimizam as relações interpessoais;
  • melhora a relação do estudante consigo mesmo; e
  • democratiza as formas de aprendizado.

Conheça algumas referências que serviram de base e/ou inspiração para construirmos, na Little Maker, uma metodologia rica e bem fundamentada, focada na educação integral e significativa para cada aprendiz.

CONTRIBUIÇÕES DA EDUCAÇÃO MAKER PARA AS ESCOLAS

As habilidades socioemocionais e cognitivas são reforçadas como prioridade pela BNCC (Base Nacional Comum Curricular), documento no qual são apontados os princípios norteadores da educação básica brasileira. 

A Educação Maker contribui para o desenvolvimento dessas habilidades, tais como: empatia, engajamento em prol dos projetos de vida, confiança, responsabilidade, autonomia, reflexão, articulação de conhecimentos e experimentação, e criatividade.

Ao inserir o Maker no ambiente escolar, os estudantes são incentivados a colocar a mão na massa e a trazer seus interesses. Assim, dedicam-se mais ao objeto de estudo, criando responsabilidade em relação ao seu aprendizado. 

Ao se verem capazes de realizar transformações, eles desenvolvem autoconfiança. Com a prática, esse empoderamento é internalizado e transborda da escola para outros âmbitos da vida.

O Maker possibilita uma transformação social e cultural no modo como as crianças e jovens se relacionam com o cotidiano, com as práticas escolares e com as próprias tecnologias. 

A exploração, a construção e a descoberta atuam como territórios férteis para o aprendizado, que por sua vez, é atrelado ao uso responsável e democrático do conhecimento adquirido, contribuindo com a escola na formação integral do indivíduo.

Também por entender o próprio vínculo existente entre si e seu objeto de estudo, o estudante demonstra mais empatia, apoiando e ajudando de forma construtiva os demais.

O desenvolvimento dessas habilidades é estimulado, desde a educação infantil ao ensino médio, de forma constante e por meio de práticas e metodologia ativa, que reforçam sempre as atitudes e valores trabalhados na Educação Maker.

Entenda como o Programa da Little Maker e o Espaço Maker podem se integrar ao currículo de sua escola, possibilitando a aproximação entre matérias, cotidiano e as experiências de cada aprendiz, transformando o aprender em algo significativo e colocando o conhecimento em movimento!

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